sábado, 21 de dezembro de 2013

Com as bênçãos da Mãe de Jesus

Prova: 47ª Henock Reis Filho
Local: Praça Dr. Benedito Meirelles - Aparecida / SP
Inscrição: R$15,00
Data: 17/12/13
Distância: 9,9 k (4ª)
Geral: 15ª corrida - 2013: 15ª corrida 
Tempo: 48'31'' - Ritmo: 4:54 min/km
Classificação geral masculino: 100 - Categoria (35-39): Não divulgado 

A última prova de 2013 foi fora de São Paulo. E, pela primeira vez, longe dos grandes centros. O clima interiorano já previa que seria uma corrida bem diferente da "pompa" conhecida pelos corredores das grandes cidades. Eu só não sabia o quanto isso seria fantástico.

Quando fiquei sabendo dessa prova, a primeira coisa que me chamou a atenção foi o dia da semana: uma terça-feira à noite. Depois, com a explicação de quem já conhece bem a cidade, ficou fácil entender: seria simplesmente impossível uma prova numa Aparecida repleta de romeiros em pleno final de semana. O preço, R$15,00, era praticamente de graça – nos anos anteriores havia sido realmente na faixa. Eu sou a favor da cobrança, mesmo que de valores simbólicos – isso evita inscrições no "oba-oba" e ausências em massa no dia da prova, deixando de fora quem realmente queria participar e não conseguiu vaga.

Bom, passado o "estranhamento" inicial e convicto de que uma prova que já está na 47ª edição não pode ser ruim, corri para não perder minha vaga – e a da esposa, que iria estrear na distância de 10k, única opção de percurso para essa corrida. Minha profissão de músico e seus dias e horários fora do convencional tem lá suas vantagens, uma delas é poder viajar numa terça-feira. A esposa deu um jeitinho no trabalho e conseguimos sair mais cedo do que o necessário, afinal não poderíamos ir até Aparecida só para correr. Tanto nós dois, quanto minha sogra que levamos conosco, tínhamos visitado a cidade há muitos (e muitos) anos.

Retirada do Kit à moda self-service
Primeiro a obrigação, depois a diversão: assim que chegamos à cidade, fomos procurar a praça para a retirada do kit contendo camiseta, número de peito e chip. O folclore da prova já nos foi apresentado aí: conferido o nome na lista, o rapaz informou nosso número de peito e indicou o monte de camisetas ao lado. Mas viemos aqui pra correr ou ficar de mimimi? Tudo tranquilo, em cinco minutos já tínhamos nosso kit. Fiquei até com receio de que aqueles que chegassem mais tarde tivessem problemas por falta de camiseta e, consequentemente, seus números de peito e chip de cronometragem. Coisa de paulistano... a menos que tenha havido algum caso que eu não fiquei sabendo, ninguém surrupiou kit de ninguém, apesar de que qualquer transeunte poderia ter passado e pegado um. Viva o respeito. E eu senti uma ponta de vergonha por ter pensado isso. Com exceção da falta de alfinetes, que com o movimento das sacolinhas provavelmente foram caindo, de resto tudo ok.

O segundo maior templo católico do mundo
Após um passeio pela Basílica e um lanche rápido, às 19:20h estávamos de volta à Praça, dessa vez bem mais movimentada. Mas nada de milhares de corredores, eram menos de 300 atletas de diversas cidades da região do Vale do Paraíba ou de algumas mais longe, como Rio de Janeiro e São Paulo. E até do Quênia e da Tanzânia.

Giba (Taubaté) e Fábio Namiuti (São José dos Campos)

Apesar de estarmos todos perfilados no pórtico faltando cerca de 10 minutos para a largada que estava anunciada para as 20h, o locutor pediu paciência – era preciso terminar a Missa na bonita capela ao lado. Estamos em Aparecida, vamos respeitar, não é mesmo? Após a missa, mandaram ver na execução do Hino Nacional na íntegra. Tudo isso levou a um atraso de 15 minutos que eu achei mais que válido, afinal mesmo na minha pequena experiência como corredor já participei de provas com atrasos maiores por motivos muito menos importantes.
O único receio de todos era uma tempestade daquelas de desabar o céu que ameaçava cair a qualquer momento, e que acabou não se concretizando. Ufa.

Enfim, a largada. Eu não tinha muitas expectativas de desempenho nessa prova. A corrida em si, seja pela cidade, seja pela oportunidade de correr à noite pela primeira vez, a novidade de uma prova mais "simples", ou, em outras palavras, com mais cara de corrida mesmo do que de balada, tudo isso por si só já valia a pena. Claro, as corridas pra mim são sempre uma competição comigo mesmo. Eu não conhecia o percurso – que não foi divulgado e enganou até os experientes na prova pois teve alteração em relação aos anos anteriores – mas sabia de antemão que a altimetria não seria a mãe dos corredores.

Havia até um medo secreto de terminar a prova em último. Não que isso seja um demérito, não é isso. Mas o efeito psicológico de quem vinha de uma vitória pessoal - o primeiro sub-50 nos 10k - seria um pouco pesado se isso acontecesse.
Esse medo se revelou exagerado, a bem da verdade. Mas a corrida em Aparecida é muito mais competitiva do que as outras a qual eu estava acostumado. Pelo fato de ter poucos competidores e também pela distância única de 10k, provavelmente não haviam ali marinheiros de primeira viagem. O último colocado masculino, por exemplo, concluiu a prova em 1h09m35s, enquanto a última corredora completou em 1h20m00s. Tempos bem abaixo do que vemos normalmente em provas com mais participantes.

A empolgação fez do primeiro quilômetro o mais rápido: 04'19'' onde já tivemos descida, plano e depois uma pequena subida, tudo isso antes da primeira placa. Mas a partir daí, fui perdendo velocidade quilômetro a quilômetro, num gráfico ascendente até o 7º km fechado em 05'27''. Senti cansaço, senti pela primeira vez o músculo da coxa esquerda doer durante uma corrida (quem mandou ficar duas semanas longe da musculação e voltar justo na véspera da prova), mas senti algo que nunca havia sentido antes e que foi decisivo para manter, apesar das variações, um ritmo suficiente pra concluir a prova em menos de 50 minutos: o carinho do público.

Esse Papai Noel está um pouco magrelo, não?
É fantástica a participação dos moradores nessa corrida. Nas calçadas, em janelas, sacadas, portões e até em bares – muitos bares pelo caminho –, todos incentivando, aplaudindo, participando. Ouvi, em ínúmeras vezes, a frase "Olha o Papai Noel" vinda de crianças e adultos, seguida de gritos entusiasmados quando eu fazia um aceno (nos primeiros quilômetros arrisquei até alguns "Ho ho ho", mas o fôlego não permitiu essa gracinha por muito tempo).

O percurso passou na ida e na volta em frente à Basílica, onde havíamos estado mais cedo em visita. Esse foi o trecho de mais atenção, pois não havia bloqueio total do trânsito, apenas um controle. Confesso que isso assustou quem, assim como eu, não está acostumado a correr ao lado dos veículos sem ter nem mesmo cones como divisória. Mas o respeito dos motoristas, foi, mais uma vez, um motivo para que eu me desculpasse comigo mesmo por pensar que aquilo seria um problema.

Completei a prova em 48'31'', com cem metros a menos do que a distância regulamentar. Voltei e realizei um desejo, cruzar a linha de chegada ao lado da esposa que aliás mandou muito bem na sua estreia nos 10k, com o tempo de 1h05'52''.

Com a medalha no peito, acompanhando
minha guerreira na sua primeira chegada de 10k
Se comparado, talvez o pace de 4'54''/km numa corrida com tanta variação altimétrica seja até melhor que os 4'51''/km no Rio, há 16 dias, em percurso totalmente plano. Mas, se eu tivesse me preocupado com isso talvez tivesse quebrado e estragado tudo. A Henock Reis Filho é uma prova mágica, por tudo que a envolve, até os relativos "problemas" ou "falta de mimos" que fazem estranhar os participantes das provas conhecidas da capital.

A cada vez que eu olhar para a medalha recebida lá, pequena e simples mas contendo na inscrição a data da prova e local (detalhe esquecido por muita prova grande), lembrarei que corri lá, que participei dessa festa junto de outros 269 amantes do esporte.

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4 comentários:

  1. Diferente, para mim, uma prova com cerca de 300 participantes... O local e a tradição da prova certamente deu um charme a competição.
    O lance do "procure seu nº de peito" deve ter sido engraçado, hêhê!!!
    Sei mais ou menos o que é ser incentivado pelo povo... no Circuito Light Porto Maravilha, por ter sido disputado numa área degradada da cidade do Rio de Janeiro, contou com a torcida dos mendigos que moram na rua e foi show de bola ver a festa que eles faziam para os competidores durante boa parte do percurso.
    Parabéns para você Luiz e sua Kelly pela evolução no ano de 2013. É quase matemático, o treinamento constante e as horas de asfalto fazem o corredor ir cada vez mais longe e mais rápido...
    FELIZ 2014!!!

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  2. Belíssimo relato, Luiz, parabéns por ele e pelas participações, sua e da Kelly, nesta nossa prova aqui do Vale. Tal qual a Henock, temos muitas outras corridas assim, simples, quase folclóricas. Mas muito agradáveis, que sempre valem a visita. E nas quais também contamos com a sua presença.

    Abração e até as próximas.

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  3. Amigo Wanderson, que em 2014 nossos treinamentos façam-nos ir cada vez mais longe hehe

    Eu lembro que você comentou do incentivo dos moradores de rua, incrível como o esporte mexe com as pessoas. Mesmo eles não fazendo esporte algum, algo neles diz que aquilo que estamos fazendo é bom, e por isso incentivam... legal demais!

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  4. Namiuti, muito obrigado pela visita e pelo incentivo aos relatos e às corridas hehe

    Pode apostar que essa foi só a primeira de muitas. A Henock já faz parte do meu calendário 2014, e outras irão entrar com certeza.

    Um grande abraço!

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