segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

São Silvestre

Em 2014, participei pela primeira vez da tradicional São Silvestre, que pra muitos é uma corrida que "não pode faltar no currículo do corredor". Não penso de forma tão radical a respeito disso, mas como paulistano e corredor sim, acho muito bacana estar nessa prova odiada por tantos. Dessa vez, mesmo sem estar no melhor da forma pude sentir de verdade o que é tentar correr no meio de uma multidão, já que na edição passada eu fui num ritmo de passeio e terminei em duas horas.



Retirada de Kits - eu com a camiseta da edição anterior
Com três meses de antecedência garantimos a inscrição, gato escaldados que somos. O amigo carioca Wanderson, que em 2014 quase ficou sem a dele, provavelmente foi um dos primeiros a se inscrever dessa vez assim que ficamos sabendo que estava liberado no site, ao precinho nada agradável de R$145,00. E fizemos bem, logo as vagas estavam esgotadas.

Foram quatro dias disponíveis para a retirada de kits: sábado 28, domingo 29, segunda 30 e terça 31, esse último provavelmente o mais concorrido por causa dos atletas de fora de São Paulo. Fomos na segunda de manhã após pegar o Wanderson na rodoviária, a retirada foi rápida e tranquila no Ginásio do Ibirapuera.

De lá, deixamos a Kelly no metrô (a folga dela só viria na terça) e fomos fazer uma rodagem leve no Ibira. Ano passado esse passeio estava nos planos, mas uma tempestade que caiu em são Paulo na noite anterior havia derrubado centenas de árvores por toda a cidade, uma delas dentro do parque caiu em cima do prédio da administração. O Ibirapuera estava fechado, para tristeza dos nossos amigos Wanderson e Sandra que ainda não conheciam o mais famoso parque paulistano. A rodagem naquela ocasião aconteceu no Parque Ecológico do Tietê, esse com todas as árvores em seus devidos lugares.
Dessa vez foi possível correr no Ibirapuera mas não pela trilha como era minha intenção, já que havia chovido na noite anterior e a terra estava bem molhada. Corremos pelo asfalto, beirando a ciclovia, a tradicional "volta de 3k" que na verdade tem 2800 metros. Depois da corrida, uma voltinha no Ibirapuera pro amigo conhecer um pouco do parque.

Na terça à noite, o nosso encontro para o carboloading foi um pouco mais gostoso que da última vez. Isso porque fui contratado pra tocar no restaurante Tenda Paulista, que fica no Conjunto Nacional, Avenida Paulista. Que coincidência fantástica! Nossos amigos lotaram o Tenda Paulista pra se conhecerem ou se reencontrarem, ouvirem Luiz França e claro, falar de corrida! O cardápio, sem dúvida, ficou quase que exclusivamente nas pizzas, jantar pré-prova preferido dos corredores.



São Silvestre é isso, prova de fato só mesmo para a Elite, nós meros mortais temos que encará-la como uma grande confraternização de fim de ano, para celebrarmos e encontrarmos amigos. Mas claro, com tudo isso o mais importante ainda é o dia da prova, e dessa vez a sensação foi de que a Avenida Paulista estava ainda mais cheia que no ano anterior.

Nos concentramos em frente o MASP mas, dada a largada, levamos quase 20 minutos para cruzar o pórtico, contra 10 minutos da última vez. Determinado a fazer o melhor tempo que eu pudesse nos 15k, procurei já encaixar meu ritmo, mesmo sabendo que esse ritmo teria que estar bem conservador porque ainda estou em fase de recuperação do condicionamento. Como há duas semanas eu havia completado a Sargento Gonzaguinha, que tem os mesmos 15k, em 1h22'04'', era nesse ritmo de 5:30 min/km que eu estava me baseando.

Saída da Av. Paulista logo após o túnel, no acesso à Av. Dr. Arnaldo
Mas fôlego não faltaria pra mim nessa prova. O grande problema era mesmo o congestionamento. Um rápido olhar nessa foto acima, clicado pelo Rafael Fotográfico, nos faz perceber que, pra cada atleta inscrito, havia pelo menos outro sem inscrição. O assunto pipoca costuma ser chamado de polêmico nas conversas entre corredores, mas é complicado não chegar à conclusão óbvia de que sim, os corredores não-inscritos atrapalham a prova e tornam a experiência do corredor inscrito um pouco menos prazerosa. A culpa costuma cair sobre a organização - no caso, a Yescom - mas será que não poderia partir de nós a atitude, sem esperar que as organizadoras tomem medidas drásticas, como já estão tomando, de proibir o acesso dos não-inscritos aos setores de largada e chegada das provas?

Seguimos rumo ao Pacaembu e a minha atenção estava voltada ao primeiro posto de hidratação, que no ano passado foi colocado na estreita Rua Margarida causando um gargalo imenso, onde muitos corredores inclusive cortaram caminho seguindo em frente pela Av. Pacaembu e pulando assim pelo menos 1300 metros do percurso sem pensar pela Rua Margarida, Alameda Olga, Rua Tagipuru e o Memorial da América Latina. Assim é moleza, hein?
Dessa vez, mostrando que apesar do que dizem por aí, as organizadoras se preocupam em melhorar as coisas, o posto foi colocado antes, na Av. Pacaembu, com balcões dos dois lados. Aquele trecho do Memorial ainda ficou congestionado, mas os corredores não paravam, só diminuíam a velocidade.

E a passagem da Av. Pacaembu por onde se cortava caminho? Estava fechada com tapumes! Isso, na minha opinião, foi uma atitude corretíssima da organização, mas extremamente vergonhosa. É preciso que se feche um trajeto com tapumes para que os corredores não cortem caminho? Que cultura de Gerson temos nós...

Ao virarmos à direita na Rua Norma Pieruccini Giannotti no Km 6 o sol, que até ali estava suportável, apareceu de frente. A partir dali ele não daria mais trégua, seria mais um obstáculo para os atletas até um pouco surpresos, já que nos dias anteriores a temperatura estava baixa.

Minha corrida era um verdadeiro martírio para a musculatura das pernas: um frequente acelera-freia-desvia onde qualquer deslize poderia significar um acidente. Por mais que eu ultrapasse gente, a multidão jamais terminava. Diferente de outras corridas, onde você vai chegando aos quilômetros finais e os espaços vão aparecendo, na São Silvestre parece que uma massa uniforme ocupa o percurso inteiro. As diferenças de ritmo nos quilômetros mostra bem isso: 5:12/km no Km 3, 6:49 no km 5, 5:09 no Km 10, 5:47 no Km 13. Onde dava pra correr um pouco mais, aproveitava e "sentava a bota". Onde não dava, era resignar-se e tentar procurar um espaço. Isso realmente desanima o corredor desavisado, que foi pra São Silvestre achando que ia correr no seu ritmo, fazer um tempo digno de recorde pessoal. Pra mim, que já esperava isso, não foi frustrante, somente mais cansativo que uma mesma corrida num ritmo até mais forte, mas sem zigue-zagues sem fim.

Pra corredores treinados, a subida da Brigadeiro não é assustadora, mas claro que qualquer ladeira acima por menos íngreme que seja exige estratégia. Pra quem subiu o Joá e a Niemayer depois de 25 quilômetros de prova na Maratona do Rio, ela somente perde aquela imponência que a Globo tenta passar pra valorizar a prova que ela transmite. Exigi um pouco mais dos quadríceps e me dirigi à Avenida Paulista com tranquilidade correndo a cerca de 5:30/km, o ritmo pretendido no início.

Avenida Paulista, a 100 metros da linha de chegada
Dobrei à direita, vi que tinha fôlego sobrando, a musculatura estava inteira, o joelho não dava sinais de vida, enxerguei o canto direito da pista e não tive dúvidas: encaixei um sprint de 300 metros abaixo de 4:00/km (quem sabe um dia consigo correr uma prova inteira nesse pace?), o que me rendeu essa bonita foto tirada por um fotógrafo da MidiaSport que eu nem vi ali. A preocupação era não se chocar com ninguém nessa reta final.
Cruzei a linha de chegada e confesso que esse tiro inconsequente me rendeu alguns minutos de preocupação: o peito parecia que ia explodir, a respiração se tornou pesada. É incrível como o condicionamento regride com o recuo no treinamento por apenas alguns meses.

Vendo depois a foto oficial da minha chegada (onde usei um truque de cores pra tornar possível me encontrar), fica difícil entender onde achei espaço para esse sprint.

O tempo bruto no cronômetro mostra bem o quanto demorei pra conseguir cruzar o pórtico
na largada: vinte longos minutos primeiro parado, depois caminhando e só após
a câmera da Globo foi possível correr e iniciar a prova.
Muitos escolhem a São Silvestre para iniciar na corrida de rua. Apesar da mística criada pela televisão, mesmo esses terminam a prova, nem que seja caminhando mais do que correndo. Outros, já correm há algum tempo mas nunca participaram de provas maiores que 10k, vêem nela um desafio a ser batido. Há ainda outros que são veteranos na própria São Silvestre, conheço amigos que já tem mais de 30 participações. Tem como não fazer parte disso?



90ª São Silvestre


Prova: 91ª Corrida de São Silvestre
Local: Avenida Paulista - São Paulo / SP
Inscrição: R$145,00
Data: 31/12/15
Distância: 15 k (4ª)
Geral: 48ª corrida - 2015: 9ª corrida 
Tempo: 1h27'14'' - Ritmo: 5:49 min/km
Classificação geral masculino: 3722º (de 16623) - Categoria (35-39): 713º (de 2907)
Resultado oficial: www.saosilvestre.com.br

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