92 anos de história. E de polêmica de igual tamanho. Assim é a São Silvestre, misto de emoções, de amor e ódio entre os atletas Brasil afora. Enquanto alguns viajam de longe e dormem na Paulista para realizarem o sonho de correr a mais famosa do Brasil, outros fazem questão de espalhar aos quatro ventos que não a querem nem de graça. Ou então vão de graça mesmo – dizem que é pra protestar.
Fato é que dessa vez eu fui disposto a realmente correr a São Silvestre. Sim, eu também gosto de todo o romantismo que a envolve, de que a São Silvestre é pra curtir, pra comemorar um ano todo de provas, pra rever os amigos. Mas eu, competitivo comigo mesmo que sou, queria também ter meu tempo nessa prova, uma marca que eu pudesse olhar e dizer: esse é o meu melhor tempo na São Silvestre, sem reclamar de que fui "atrapalhado" pela multidão (como em 2015) ou porque "corri só pra brincar (como em 2014, com a esposa e amigos).
Na véspera, como já é nossa tradição há três anos em duas São Silvestre's e duas Maratonas do Rio, reunimos os Amigos Que Correm para bater um papo e encher a pança. O endereço foi o mesmo de 2015, o restaurante Tenda Paulista que fica no Conjunto Nacional na Av. Paulista, em frente o MASP. O inspirador cenário da prova do dia seguinte. Mesmo quem não ia correr apareceu pra confraternizar, entre esses minha esposa, que dessa vez decidiu por não participar da corrida.
Todo corredor que conhece a São Silvestre sabe que, se você quiser ter chances de imprimir seu ritmo seja lá qual for sem precisar fazer zigue-zague o percurso todo, precisa chegar cedo e se posicionar mais à frente. No tradicional ponto de encontro da maioria dos atletas, o MASP, a passagem pelo pórtico de largada depois que essa é autorizada pode demorar 20 minutos (foi o tempo que levei para cruzar a linha em 2015) e até 40 minutos após a largada ser dada ainda tem corredor iniciando sua prova, são aqueles que chegam bem próximo das 9h ou mesmo os que chegam um pouco mais cedo mas preferem não ficar na muvuca.
Cheguei com meu amigo e hóspede, o carioca Wanderson Freitas, às 7h30 da manhã. Bem depois da turma que se posiciona às 6h, até antes, e fica sentado no chão para largar colado na fita. Mas eu não tinha essa coragem e nem vontade de esperar tanto, arrisquei que 1h30 antes da largada era um tempo suficiente pra eu conseguir ao menos cruzar o pórtico sem tanta demora. Deixei o Wanderson no MASP (ele não gosta de aperto) e tentei avançar o máximo que pude. Não foi tanto assim, fiquei a meio caminho entre o museu e a linha de largada. Ali, o jeito foi aguardar a largada, prestando atenção no sol que já dava as boas vindas.
A largada foi dada pontualmente às 9h. Se esse horário de largada é digno de críticas justas, pelo menos não atrasam. Demorei apenas dois minutos para cruzar o pórtico e iniciar minha corrida. Na verdade até estranhei quando vi o tapete de largada e quase hesitei em iniciar o cronômetro. Foi bem mais rápido do que eu esperava.
Logo de cara já deu pra iniciar a corrida no meu ritmo, claro com certo trânsito nesse início mas nada que já não encontrei em outras provas como Caixa, Olga Kos, enfim provas movimentadas. Alguns desvios e esbarrões duraram até o quilômetro 3, mas na Av. Pacaembu já foi possível correr solto. Eu estava na São Silvestre, aquela que todos (inclusive eu) diziam que é impossível correr, mas ali caía um tabu.
Tendo feito a Sargento Gonzaguinha, prova também de 15k mas com percurso plano, em 1h06'59 (ritmo de 4:27 min/km) há 20 dias, eu tinha a pretensão de concluir a São Silvestre com ritmo de 4:40, ou seja 13 segundos por quilômetro mais lento. Essa diferença eu calculei baseado na altimetria da prova, no meu cansaço acumulado e no calor de uma largada às 9h da matina em pleno verão matador de São Paulo.
Em quase todos os quilômetros consegui manter a média de 4:30, caindo em alguns para algo em torno de 4:50 nas subidas mais acentuadas (sim, a São Silvestre não é só Brigadeiro) e até marcando 4:16 na descida kamikase rumo ao Pacaembu no início da prova.
Em todos os postos de água eu me hidratava e jogava um pouco na cabeça. Depois da primeira metade esperei ansioso pelo posto de isotônico, que ao contrário dos dois anos anteriores, não apareceu. Aliás, eu deveria agradecer pela água – ela faltaria aos atletas do pelotão "de trás". Segundo relatos, por volta do quilômetro 7 se formaram imensas filas em postos de gasolina e bares atrás do líquido valioso. Pra quem não tem o hábito de correr com dinheiro no bolso, deve ter sido mais desesperador. Meu amigo Wanderson enfrentou uma dessas filas.
Ao entrarmos na Brigadeiro, dessa vez pela Rua Maria Paula (aliás, gostei da mudança do percurso que nos colocou mais dentro do Centro Histórico), fechei o 13º quilômetro em 4:37. Subi a avenida firme tentando não despencar demais o ritmo apesar do cansaço já evidente. Os dois últimos quilômetros foram concluídos em 5:19 e 5:18, suficientes para fechar a prova em 1h10'55" e cravar o ritmo médio em 4:40 conforme o planejado. Exatos 4 minutos acima do tempo da Gonzaguinha mas com 200 metros a mais registrados no relógio, e olha que eu tangenciei bem as curvas. Houve quem acusasse 10,4 e até 10,6 quilômetros de prova. Acredito que com tangência perfeita a prova registre os 15k oficiais, mas esse feito só é possível aos atletas de elite, com pista 100% livre para correr no menor traçado possível.
Após cruzar o pórtico, me abasteci de mais água, colocada em diversos contêineres ao longo da Paulista. Aí ela existia em abundância e bem gelada. Fiquei sabendo de relatos de corredores que levaram água pra casa de sacola (prefiro não comentar). Aí reside, na minha opinião, o erro da Yescom: água suficiente havia, só foi mal distribuída. Em nota, eles culparam os pipocas. Eu não quero saber de quem é a culpa, fato é que pagamos por um serviço, somos consumidores. Eles que se virem para garantí-lo. Sinto até um esforço em fazer melhorias, nas três edições que participei foram três percursos diferentes visando facilitar a vida do atleta. O horário, enquanto a prova for transmitida pela Globo, acho difícil mudarem. Mas hidratação não pode faltar jamais, isso é inadmissível.
Não tanto por bater o recorde pessoal na prova, pois como relatei no ano anterior, eu corri a São Silvestre 2015 ainda tentando recuperar minha melhor forma, após um segundo semestre cuidando do joelho. Mesmo largando do MASP e demorando de novo 20 minutos para cruzar o pórtico, se nada anormal acontecesse era muito provável que eu faria um tempo melhor.
Mas o sentimento gostoso que ficou é que, apesar das duras e justas críticas feitas a essa corrida que mora no imaginário de muitos, há algumas situações que não são totalmente verdade. Uma delas é de que é preciso chegar às 6h da manhã e fazer xixi na garrafinha para conseguir correr no seu ritmo. Mas é verdade que se faz necessário alinhar com bastante antecedência se você tiver essa pretensão. Se habitualmente alinhamos com 15 ou 20 minutos faltando para a largada, na São Silvestre é preciso pelo menos uma hora na sua posição aguardando a corneta.
2016 foi um bom ano. Quebrei alguns recordes pessoais: nos 5k, nos 10k e nos 15k. Também quebrei (não o recorde, mas a cara) na minha segunda maratona, fazendo um tempo bem acima da primeira. Terminei o ano com 1680 quilômetros rodados, de longe minha melhor distância desde 2013 quando iniciei no esporte.
Estou ficando mais velho, mas também estou melhorando a velocidade e aumentando o volume de forma consistente, sem lesões além daquela que apareceu no joelho em 2015 mas que com o fortalecimento e melhora na técnica recuou bastante e está quase superada. Ainda dá sinais de existência mas sem interferir nos meus treinos e movimentos. Para sumir completamente, é um processo lento, mas contínuo. Não tem regredido desde então.
2017 promete, pois será um ano onde entro com um lastro de volume e resistência bem maior do que entrei nos anos anteriores. O foco desse ano será a meia-maratona, distância deliciosa que só disputei três vezes (sem contar outras duas só um pouco maiores, as 15 milhas ou 24k) e onde quero buscar também meu recorde pessoal além de usá-la como trampolim para voltar à maratona em 2018.
Prova: 92ª Corrida Internacional de São Silvestre
Local: Avenida Paulista - São Paulo / SP
Inscrição: R$ 160,00
Data: 31/12/16
Distância: 15,2 k (6ª)
Geral: 61ª corrida - 2016: 13ª corrida
Tempo: 1h10'55'' - Ritmo: 4:40 min/km
Número de Peito: 2561
Fato é que dessa vez eu fui disposto a realmente correr a São Silvestre. Sim, eu também gosto de todo o romantismo que a envolve, de que a São Silvestre é pra curtir, pra comemorar um ano todo de provas, pra rever os amigos. Mas eu, competitivo comigo mesmo que sou, queria também ter meu tempo nessa prova, uma marca que eu pudesse olhar e dizer: esse é o meu melhor tempo na São Silvestre, sem reclamar de que fui "atrapalhado" pela multidão (como em 2015) ou porque "corri só pra brincar (como em 2014, com a esposa e amigos).
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| Na retirada de kits |
Todo corredor que conhece a São Silvestre sabe que, se você quiser ter chances de imprimir seu ritmo seja lá qual for sem precisar fazer zigue-zague o percurso todo, precisa chegar cedo e se posicionar mais à frente. No tradicional ponto de encontro da maioria dos atletas, o MASP, a passagem pelo pórtico de largada depois que essa é autorizada pode demorar 20 minutos (foi o tempo que levei para cruzar a linha em 2015) e até 40 minutos após a largada ser dada ainda tem corredor iniciando sua prova, são aqueles que chegam bem próximo das 9h ou mesmo os que chegam um pouco mais cedo mas preferem não ficar na muvuca.
Cheguei com meu amigo e hóspede, o carioca Wanderson Freitas, às 7h30 da manhã. Bem depois da turma que se posiciona às 6h, até antes, e fica sentado no chão para largar colado na fita. Mas eu não tinha essa coragem e nem vontade de esperar tanto, arrisquei que 1h30 antes da largada era um tempo suficiente pra eu conseguir ao menos cruzar o pórtico sem tanta demora. Deixei o Wanderson no MASP (ele não gosta de aperto) e tentei avançar o máximo que pude. Não foi tanto assim, fiquei a meio caminho entre o museu e a linha de largada. Ali, o jeito foi aguardar a largada, prestando atenção no sol que já dava as boas vindas.
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| O calor humano. Esse dá pra tirar de letra, o pior era o calor de verdade que iríamos enfrentar depois |
Logo de cara já deu pra iniciar a corrida no meu ritmo, claro com certo trânsito nesse início mas nada que já não encontrei em outras provas como Caixa, Olga Kos, enfim provas movimentadas. Alguns desvios e esbarrões duraram até o quilômetro 3, mas na Av. Pacaembu já foi possível correr solto. Eu estava na São Silvestre, aquela que todos (inclusive eu) diziam que é impossível correr, mas ali caía um tabu.
Tendo feito a Sargento Gonzaguinha, prova também de 15k mas com percurso plano, em 1h06'59 (ritmo de 4:27 min/km) há 20 dias, eu tinha a pretensão de concluir a São Silvestre com ritmo de 4:40, ou seja 13 segundos por quilômetro mais lento. Essa diferença eu calculei baseado na altimetria da prova, no meu cansaço acumulado e no calor de uma largada às 9h da matina em pleno verão matador de São Paulo.
Em quase todos os quilômetros consegui manter a média de 4:30, caindo em alguns para algo em torno de 4:50 nas subidas mais acentuadas (sim, a São Silvestre não é só Brigadeiro) e até marcando 4:16 na descida kamikase rumo ao Pacaembu no início da prova.
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| O lindo cenário do Teatro Municipal, com o percurso agora seguindo direto em vez de virar à esquerda no Viaduto do Chá |
Ao entrarmos na Brigadeiro, dessa vez pela Rua Maria Paula (aliás, gostei da mudança do percurso que nos colocou mais dentro do Centro Histórico), fechei o 13º quilômetro em 4:37. Subi a avenida firme tentando não despencar demais o ritmo apesar do cansaço já evidente. Os dois últimos quilômetros foram concluídos em 5:19 e 5:18, suficientes para fechar a prova em 1h10'55" e cravar o ritmo médio em 4:40 conforme o planejado. Exatos 4 minutos acima do tempo da Gonzaguinha mas com 200 metros a mais registrados no relógio, e olha que eu tangenciei bem as curvas. Houve quem acusasse 10,4 e até 10,6 quilômetros de prova. Acredito que com tangência perfeita a prova registre os 15k oficiais, mas esse feito só é possível aos atletas de elite, com pista 100% livre para correr no menor traçado possível.
Após cruzar o pórtico, me abasteci de mais água, colocada em diversos contêineres ao longo da Paulista. Aí ela existia em abundância e bem gelada. Fiquei sabendo de relatos de corredores que levaram água pra casa de sacola (prefiro não comentar). Aí reside, na minha opinião, o erro da Yescom: água suficiente havia, só foi mal distribuída. Em nota, eles culparam os pipocas. Eu não quero saber de quem é a culpa, fato é que pagamos por um serviço, somos consumidores. Eles que se virem para garantí-lo. Sinto até um esforço em fazer melhorias, nas três edições que participei foram três percursos diferentes visando facilitar a vida do atleta. O horário, enquanto a prova for transmitida pela Globo, acho difícil mudarem. Mas hidratação não pode faltar jamais, isso é inadmissível.
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| Mais uma linda - como sempre - medalha da São Silvestre. Minha terceira seguida. |
Mas o sentimento gostoso que ficou é que, apesar das duras e justas críticas feitas a essa corrida que mora no imaginário de muitos, há algumas situações que não são totalmente verdade. Uma delas é de que é preciso chegar às 6h da manhã e fazer xixi na garrafinha para conseguir correr no seu ritmo. Mas é verdade que se faz necessário alinhar com bastante antecedência se você tiver essa pretensão. Se habitualmente alinhamos com 15 ou 20 minutos faltando para a largada, na São Silvestre é preciso pelo menos uma hora na sua posição aguardando a corneta.
2016 foi um bom ano. Quebrei alguns recordes pessoais: nos 5k, nos 10k e nos 15k. Também quebrei (não o recorde, mas a cara) na minha segunda maratona, fazendo um tempo bem acima da primeira. Terminei o ano com 1680 quilômetros rodados, de longe minha melhor distância desde 2013 quando iniciei no esporte.
Estou ficando mais velho, mas também estou melhorando a velocidade e aumentando o volume de forma consistente, sem lesões além daquela que apareceu no joelho em 2015 mas que com o fortalecimento e melhora na técnica recuou bastante e está quase superada. Ainda dá sinais de existência mas sem interferir nos meus treinos e movimentos. Para sumir completamente, é um processo lento, mas contínuo. Não tem regredido desde então.
2017 promete, pois será um ano onde entro com um lastro de volume e resistência bem maior do que entrei nos anos anteriores. O foco desse ano será a meia-maratona, distância deliciosa que só disputei três vezes (sem contar outras duas só um pouco maiores, as 15 milhas ou 24k) e onde quero buscar também meu recorde pessoal além de usá-la como trampolim para voltar à maratona em 2018.
Prova: 92ª Corrida Internacional de São Silvestre
Local: Avenida Paulista - São Paulo / SP
Inscrição: R$ 160,00
Data: 31/12/16
Distância: 15,2 k (6ª)
Geral: 61ª corrida - 2016: 13ª corrida
Tempo: 1h10'55'' - Ritmo: 4:40 min/km
Número de Peito: 2561
Classificação geral masculino: 721º (de 16430) - Categoria (40-44): 126º (de 2529)
Resultado oficial: http://www.saosilvestre.com.br/resultados/
Atividade no Strava: https://www.strava.com/activities/816745145
Resultado oficial: http://www.saosilvestre.com.br/resultados/
Atividade no Strava: https://www.strava.com/activities/816745145
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