Music Run - Batendo recorde mas saindo frustrado

Dizemos, entre os corredores, que corrida ruim é aquela que não aconteceu. Filosoficamente, entre nós, "esses loucos corredores", isso tem um certo grau de verdade. Mas comigo não é sempre assim, tem aquelas provas que eu termino já querendo correr de novo e aquelas outras que fica uma sensação de que deveria ser mais contido antes de fazer uma inscrição só porque custou pouco.

Não é que foi péssima, mas foi esquisita o suficiente pra que eu terminasse batendo meu recorde pessoal nos 5k e só fosse me dar conta disso depois, bem depois.

Antes da prova, na arena montada dentro do Memorial

Essa prova é um misto de corrida e show: corrida antes, show de rock depois. Mas havia uma opção mais barata pra quem não quisesse ficar com o show – o que, pra mim, fazia mais sentido. Carácoles, se eu quiser ir a um show, vou a um show. Se eu quero ir a uma corrida, ela tem que ser uma corrida, que pode até ter um show depois como já aconteceu na corrida do Internacional Shopping Guarulhos, mas como "presente" aos atletas e não como venda casada. Estarei eu sendo chato? Pode ser, afinal é notável que muitos se inscreveram para participar do show e devem discordar da minha opinião.

A retirada de kits foi feita na loja Decathlon Morumbi. Serei chato novamente. Por que tão longe? Longe do local da prova, longe dos acessos mais fáceis de metrô e trem... mas pude contar com o casal de amigos Wagner e Yara Rizzardo (Equipe Pace Suicida) que retiraram nossos kits lá, poupando-nos mais uma viagem e um gasto equivalente ao preço da inscrição. Pois é o que muitas corridas estão fazendo, você paga 20 reais para se inscrever mas gasta outros 20 para retirar o kit. E essa loja deve estar com um contrato bom com as organizadoras, pois na Meia da Corpore a retirada também foi lá.

Eu nunca havia participado de uma corrida noturna em São Paulo. Mas já havia corrido à noite, na histórica Henock Reis Filho em Aparecida. As semelhanças ficariam por aí. Aquela foi uma prova tranquila, com pouco mais de 300 participantes e com percurso de 10k, onde mesmo se houvesse um começo um pouco tumultuado há espaço para recuperação.

Chegamos ao Memorial da América Latina com mais de uma hora de antecedência da largada que estava marcada para as 19h30. Fomos barrados no portão do Memorial: somente atletas com número de peito entravam, e ainda não havíamos pego os nossos. Muitos pipocas saíram dali contrariados, mas a dificuldade era só utilizar os banheiros, porque a largada mesmo seria dada na rua e não havia bloqueio algum para corredores sem inscrição. Aguardamos nossos kits, entramos, guardamos as coisas no guarda-volumes e fomos aquecer, ou pelo menos essa era nossa intenção.

Ainda faltava 30 minutos, mas logo ao nos aproximar do pórtico de largada notamos que o povão já estava se aglomerando. Era evidente que, se não fizéssemos o mesmo, teríamos que largar muito de trás, e nem imaginávamos o quanto isso seria desastroso. Então alinhamos, minha esposa, eu, o Marcelo e o Sirlan, procurando nos aquecer parados.

A partir dali foi uma multidão alinhando, e a rua separada para a largada ficou pequena. Tanto que, pela primeira vez, vi uma largada sendo adiantada, em vez do mais comum que é largarmos com atraso. Às 19h25 liberaram os corredores.

Para nós que conseguimos largar relativamente próximos ao pórtico, foi difícil correr nesse primeiro quilômetro. Pra quem largou mais atrás, como meu amigo Wagner que teve que entregar os kits que pegou para depois entrar na arena, usar os guarda-volumes e ir para a largada, foi impossível.

Não é que eu não consegui correr rápido nesse início – e, como rápido, entenda-se sempre o meu padrão de rapidez, que não é nada notável –, afinal completei o primeiro quilômetro em 4'11" mesmo com os 17m de altimetria entre a Av. Francisco Matarazzo e o início do Elevado João Goulart. O problema é que, em meio à muvuca, é preciso um zigue-zague tremendo pra conseguir isso, além de pequenos tiros quando se avista um espaço livre, freadas, mudanças bruscas de direção... isso já estressa e compromete qualquer estratégia.

É por isso que existe um número máximo de pessoas para qualquer evento, o que certamente ali foi ultrapassado. E não foi, creio eu, por culpa de pipocas não: havia mesmo muito mais inscritos do que o espaço poderia suportar. Levei 500 metros pra conseguir correr relativamente livre, o que pode parecer pouco mas numa corrida de 5k é muito. E sem esquecer que eu larguei próximo ao pórtico; veria outros amigos totalmente presos na parte de trás da multidão, amigos inclusive bem mais rápidos que eu.

Bem, nem só de reclamações vai viver esse relato. No quilômetro 2, já podendo correr sem tanta interferência dos grupinhos e da galera que nitidamente está começando no esporte mas insiste em largar na frente (nada contra eles, pelo contrário, sou só incentivos, mas para o bem deles próprios seria interessante evitar isso), pude completar em 3'57". Feliz com a vibração do Tomtom me mostrando esse número sub4 mas sabendo que essa não era a realidade daquela noite, procurei administrar a respiração que já estava ofegante.

Fizemos o retorno e agora era hora de mais descer do que subir, ainda assim o quilômetro 3 foi completado em 4'08" e o 4, o mais lento da prova, em 4'14". Já tinha abandonado qualquer ideia de recorde, até porque essa prova entrou como esporádica e não teve treinamento pra ela, muito pelo contrário, na quinta-feira mesmo eu havia feito 14k fartlek o que obviamente não seria adequado se quisesse chegar inteiro numa prova no sábado. Mas, como tudo o que sobe, desce, o último quilômetro descontou aqueles 17m de altimetria do primeiro, e eu encaixei 3'55" de parcial. Com os 120m a mais no percurso, fechei em 20'50", média de 4'05" min/km. Era o meu Recorde Mundial Pessoal na distância, mas como eu fui pra essa prova sem esperar um grande feito, nem havia olhado meus tempos anteriores e não me dei conta na hora que havia feito meu melhor tempo nos 5k que era de 21'08" conquistados no Circuito Popular - Etapa Vila Matilde, em 2014! Ou, se considerarmos os metros a mais, uma performance idêntica ao Circuito Popular do ABC em 2016, que teve 5,3k mas no ritmo por quilômetro o resultado se assemelha ao de agora.

"Amigos Que Correm" e "Pace Suicida"

Os atletas que ficariam para o show já estavam separados pela cor do número de peito (verde para o show, branco para os "vinteconto" como eu), mas também havia separação na hora de cruzar a chegada: direita para o show, esquerda sem show. Fui direto para o guarda-volume, peguei minhas coisas e da esposa, esperei sua chegada e saí "correndo" porque eu sim tinha um show a fazer, e precisava estar no palco da North Beer (zona norte) às 21h30.

Enfim, no fim das contas consegui correr bem mesmo estando treinando para provas mais longas e sem ter me preparado especificamente pra essa prova. É meu terceiro bom resultado seguido no ano, depois da Olga Kos e da Meia Corpore.



Nem só de pontos negativos foi a prova. Aliás, apesar de toda minha decepção, só houve mesmo um único ponto a ser considerado negativo: a superlotação. No kit pré-prova, linda camiseta. No pós, bonita medalha, isotônico e fruta.

Para quem está iniciando ou pra quem corre, como dizem por aí, "só por prazer", é uma boa opção. Você não precisa acordar cedo no domingo pra correr, a festa com os amigos é garantida, etc. Mas pra quem enxerga a corrida como esporte que ela é, que mesmo para amadores é uma competição ainda que consigo mesmo, então posso assegurar que esse tipo de "corrida balada" não deve agradar.

Prova: Music Run Etapa Rock
Local: Memorial da América Latina - São Paulo / SP
Inscrição: R$ 20,00 + taxa
Data: 15/04/17
Distância: 5,12 k (21ª)
Geral: 66ª corrida - 2017: 5ª corrida 
Tempo: 20'50'' - Ritmo: 4:05 min/km
Número de Peito: 334

Classificação geral masculino: 100º (de ?) - Categoria (40-44): 13º (de ?)
Resultado oficial: https://sites.minhasinscricoes.com.br/MusicRunEtapaRock#Resultado
Atividade no Strava: https://www.strava.com/activities/943973293